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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/67

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as almas enamoradas da beleza e do amor; admite-se que a magnética fosforecência, difundida pelas projecções do astro sonhador, contem uma substância fluidica que é o preespirito radioactivo do amor nas suas mais belas expressões de piedade e de ternura, que, sendo mais intensas na alma da mulher, tornarão melhor o mundo pelo altruismo.

 
 

Assentou nestas bases profundas a moral dos Vedas que fez da mulher uma apoteóse do amor. Essa moral foi suplantada por uma reacção desmoralisadora dos códigos brahmanicos.

Os Vedas criam um mundo de lirismo e magia nas divindades mitológicas. Pan e Tebo consagram na ninfa Eco, a mágica dos espaços celestiais que abre as portas do Olimpo às Deusas, às Musas, às Ninfas para matizar o mundo de graça e iluminá-lo de Amor, de espiritualismo e poesia que sublimaria a vida ao sôpro de preclaras virtudes contidas no culto do « Eterno Feminino». Mas veem os segundos reformadores e precipitam a inversão dessa encantadora religião coroada de astros e de mirtos, embalada de harmonias de arte e perfumada de ideais canduras. Baixa o espiritual e sobe o material. Abrem-se os serralhos e os harens. A orgia invade os próprios templos. O culto sagrado da mulher-mãe, simbolo de puras e sublimes virtudes, substitue-se peio culto profano e pagão da cortezã. Ás clamides sagradas da pureza, sucede a embriaguez de lascivias indecorosas. Depois de envelhecida nos harens e desprezada nos serralhos, a mulher é atirada á beira das estradas, vendendo o corpo misero e avariado. Ei-la prostitituida para abrir os lupanares. E o homem, perdido no inferno da lubricidade, cria necessidades de poligamia e