— ¿É Deus, quando se zanga, que desabafa assim a sua cólera, Luís?
— Não, meu amigo. Isto é uma descarga elétrica produzida entre uma nuvem e a terra: descarga que se dá muitas vezes durante uma tempestade.
— Mas a minha vizinha Joana disse-me que eram os santos que arrumavam no ceu o quarto de Nosso Senhor; e que, como os móveis são muito pesados…
— A vizinha Joana não sabe o que diz. ¡E tu fias-te nela!
— ¿Então a tempestade é uma descarga elétrica?
— Não. O raio é que é uma descarga elétrica que, como já te disse, se produz entre uma nuvem e a terra e converte em vidro, não só as areias, como a superfície de certas rochas.
João repetiu as palavras do primo com o cuidado de quem estuda uma lição.
Luís volveu:
— Eu tambem, quando era mais pequeno, me ajoelhei, rezando e a tremer de mêdo junto duma árvore, ignorando que não podia estar em pior sítio.
— ¿Então estar ao pé das árvores é perigoso?
— Certamente, porque atráem os raios.
— ¡Tu sempre sabes muito, Luís!
Vaidoso com o elogio e não querendo levar mais longe a conversa, com receio de perder no conceito do primo, Luís falou de outra coisa.