Página:Maria O'Neill - Horas de Folga.pdf/24

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der alguma coisa dos seus instintos crueis, tem um ví- cio de não há meio de o curar.

- ¿Qual é?

A ladroíce.

-¿E os pais dêles? Que fizeram quando deram pela falta dos seus filhinhos?

- Não sei. Naturalmente entretiveram-se a voar pelas alturas, a crocitar chamando pelos outros e fôram na sua companhia caçar alguma lebre, emquanto as aves de rapina os não caçavam a êles. Este é um dos corvos mais lindos e maiores que eu tenho visto. Tem quasi tres palmos de comprimento.

- Meu pai teve um que nem meio palmo tinha: de repente parecia um melro.

-Eu sou muito amigo do Tio Vicente, mas olhe que êle já me tem dado desgostos...

- ¿Desgostos?

- É verdade. Por causa dêle já tive de ir ao Govêrno Civil.

- ¿Como foi isso?

- Vinha um freguês aqui ao vinho e trazia o di- nheiro numa taleiga...

- ¿O que é taleiga?

- E' um saco pequeno. O homem entrava, sentava-se e pousava o saquito junto dêle. Um dia, em que entrou mais pela bebida, o Tio Vicente pegou no saco e escondeu-o. O freguês chamou-me ladrão, foi dar parte á polícia de que eu o tinha roubado e vieram prender-me. Mas o caixeiro, que é um bom rapaz,