Saí dalli a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o somno, o bater da pendula fazia-me muito mal; esse tic-tac soturno, vagaroso e secco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dous saccos, o da vida e o da morte, a tirar as moedas da vida para dal-as á morte, e a contal-as assim:
— Outra de menos..
— Outra de menos...
— Outra de menos.
— Outra de menos.
O mais singular é que, se o relogio parava, eu dava-lhe corda, para que elle não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos.