no Passeio Publico; e tudo me parecia dizer a mesma cousa. — Porque não serás ministro, Cubas? — Cubas, porque não serás ministro de Estado? Ao ouvil-o, uma deliciosa sensação me refrescava todo o systema. Entrei, fui sentar-me n’um banco, a cavar commigo aquella idéa. E Virgilia que havia de gostar! Alguns minutos depois vejo encaminhar-se para mim uma cara, que me não pareceu desconhecida. Conhecia-a, fosse d’onde fosse.
Imaginem um homem de trinta e oito a quarenta annos, alto, magro e pallido. As roupas, salvo o feitio, pareciam ter escapado ao captiveiro de Babylonia; o chapéu era contemporaneo do de Gessler. Imaginem agora uma sobrecasaca, mais larga do que pediam as carnes, — ou, litteralmente, os ossos da pessoa; a côr preta ia cedendo o passo a um amarello sem brilho; o pello desapparecia aos poucos; dos oito primitivos botões restavam tres. As calças, de brim pardo, tinham duas fortes joelheiras, em quanto as bainhas eram roidas pelo tacão de um botim sem misericordia nem graxa. Ao pescoço fluctuavam as pontas de uma gravata de duas cores, ambas desmaiadas, apertando um collarinho de oito dias. Creio que trazia tambem collete, um collete de seda escura, roto a espaços, e desabotoado.
— Aposto que me não conhece, Sr. Dr. Cubas? disse elle.
— Não me lembra...
— Sou o Borba, o Quincas Borba.
Recuei espantado... Quem me dera agora o verbo solemne de um Bossuet ou de Vieira, para contar