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MEMORIAS POSTHUMAS DE BRAZ CUBAS

Como este appellido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria, allegava meu pae, bisneto do Damião, que o dito appellido fôra dado a um cavalleiro, heroe nas jornadas da Africa, em premio da façanha que praticou, arrebatando tresentas cubas aos mouros. Meu pae era homem de imaginação; escapou à tanoaria nas azas de um calembour. Era um bom caracter, meu pae, varão digno e leal como poucos. Tinha, é verdade, uns fumos de pacholice; mas quem não é um pouco pachola nesse mundo? Releva notar que elle não recorreu à inventiva senão depois de experimentar a falsificação; primeiramente, entroncou-se na familia daquelle meu famoso homonymo, o capitão-mór, Brás Cubas, que fundou a villa de S. Vicente, onde morreu em 1592, e por esse motivo é que me deu o nome de Braz. Oppos-se-lhe porém a familia do capitão-mór, e foi então que elle imaginou as tresentas cubas mouriscas.

Vivem ainda alguns membros de minha familia, minha sobrinha Venancia, por exemplo, o lyrio do valle, que é a flor das damas do seu tempo; vive o pae, o Cotrim, um sujeito que... Mas não antecipemos os successos; acabemos de uma vez com o nosso emplasto.