Página:Memórias Pósthumas de Braz Cubas.djvu/221

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— Estou muito zangada com você, disse ella sentando-se.

— Porque?

— Porque não foi lá hontem, como me tinha dito. O Damião perguntou muitas vezes se você não iria, ao menos, tomar chá. Porque é que não foi?

Com effeito, eu havia faltado á palavra que dera, e a culpa era toda de Virgilia, Questão de ciumes. Essa mulher esplendida sabia que o era, e gostava de o ouvir dizer, fosse em voz alta ou baixa. Na antevespera, em casa da baroneza, valsara duas vezes com o mesmo peralta, depois de lhe escutar as cortezanices, ao canto de uma janella. Estava tão alegre! tão derramada! tão cheia de si! Quando descobriu, entre as minhas sobrancelhas, a ruga interrogativa e ameaçadora, não teve nenhum sobresalto, nem ficou subitamente séria; mas deitou ao mar o peralta e as cortezanices. Veiu depois a mim, tomou-me o braço, e levou-me até outra sala, menos povoada, onde se me queixou de cançaço, e disse muitas outras cousas, com o ar pueril que costumava ter, em certas occasiões, e eu ouvi-a quasi sem responder nada.

Agora mesmo, custava-me responder alguma cousa, mas emfim contei-lhe o motivo da minha ausencia... Não, eternas estrellas, nunca vi olhos mais pasmados. A boca semi-aberta, as sobrancelhas arqueadas, uma estupefacção visivel, tangivel, que senão podia negar, tal foi a primeira replica de Virgilia; abanou a cabeça com um sorriso de piedade e ternura, que inteiramente me confundiu.