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CAPITULO XCVII

 
Entre a boca e a testa
 

Sinto que o leitor estremeceu, — ou devia estremecer. Naturalmente a ultima palavra suggeriu-lhe tres ou quatro reflexões. Veja bem o quadro: n’uma casinha da Gamboa, duas pessoas que se amam ha muito tempo, uma inclinada para a outra, a dar-lhe um beijo na testa, e a outra a recuar, como se sentisse o contacto de uma boca de cadaver. Ha ahi, no breve intervallo, entre a boca e a testa, antes do beijo e depois do beijo, ha ahi largo espaço para muita cousa, — a contracção de um resentimento, — a ruga da desconfiança, — ou emfim o nariz pallido e somnolento da saciedade...