Era elle. D. Placida abriu-lhe a porta com muitas exclamações de pasmo: — O senhor por aqui! honrando a casa de sua velha! Entre, faça favor. Adivinhe quem está cá... Não tem que adivinhar: não veiu por outra cousa... Appareça, Yayá.
Virgilia, que estava a um canto, atirou-se ao marido. Eu espreitava-os pelo buraco da fechadura. O Lobo Neves entrou lentamente, pallido, frio, quieto, sem explosão, sem arrebatamento, e circulou um olhar em volta da sala.
— Que é isto? exclamou Virgilia. Você por aqui?
— Ia passando, vi D. Placida á janella, e vim comprimental-a.
— Muito obrigada, acudiu esta. E digam que as velhas não valem alguma cousa... Olhae, gentes! Yayá parece estar com ciumes. E acariciando-a muito: — Este anjinho é que nunca se esqueceu da velha Placida. Coitadinha! é mesmo a cara da mãe... Sente-se, senhor doutor...
— Não me demoro.
— Você vae para casa? disse Virgilia. Vamos juntos.
— Vou.
— Dê cá o meu chapéu, D. Placida.
— Está aqui.
D. Placida foi buscar um espelho, abriu-o deante della. Virgilia punha o chapéu, atava as fitas, arranjava os cabellos, falando ao marido, que não respondia nada. A nossa boa velha tagarellava de mais; era um modo de disfarçar as tremuras do corpo. Virgilia,