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o havia uma grande quantidade de poltros que me serviram para fazer cavalleiros dos meus marinheiros.

S. Simão era uma bella e espaçosa herdade, que se achava então abandonada. Pertencia ao conde de S. Simão, antigamente exilado, e de quem os herdeiros estavam tambem exilados como inimigos da republica. Eu não sei se elle era ainda parente do famoso conde de S. Simão, fundador d’essa religião de que os adeptos me tinham iniciado na paternidade universal; mas n’esta occasião, como a familia de S. Simão era considerada por nós como inimiga, tratámos a sua herdade como uma conquista; isto é, apoderámo-nos das casas para ahi habitarmos, e dos animaes domesticos que ahi havia para fazermos o nosso sustento.

Os nossos unicos divertimentos eram ensinar os nossos poltros, ou, para melhor dizer, os poltros dos S. Simonnianos.

Foi n’esta occasião que a minha chara Annita deu á luz o primeiro filho. Em logar de lhe dar o nome d’um santo, dei-lhe o nome d’um martyr.

Chamou-se Menoti.

Nasceu a 16 de setembro de 1840, exactamente no mesmo dia em que fazia nove mezes que tinha tido logar o combate de Santa Victoria. A sua apparição n’este mundo sem accidente, era um verdadeiro milagre depois das privações e dos perigos soffridos por sua mãe. Essas privações e esses soffrimentos de que eu ainda não fallei, afim de não interromper a minha narração, devem aqui achar logar, e é do meu dever fazer conhecer se não ao mundo, ao menos a alguns amigos que lerem este jornal a admiravel creatura que perdi.[1]

  1. É escusado repetir que estas Memorias tinham sido escriptas por Garibaldi unicamente para serem lidas por alguns amigos.