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meio d’um campo antigamente cultivado chamado Rocha velha, onde encontrei o capitão de lanceiros Maximo, que me recebeu perfeitamente. Acceitei a sua hospitalidade durante dois dias, por causa do pessimo tempo não me deixar continuar a jornada.

No fim d’elles quiz partir, apesar de todos os esforços que fez o bom capitão para me conservar na sua companhia.

Mas o fim para que tinha partido era para mim mui sagrado para que me demorasse mais, e não obstante as observações d’este bom amigo, puz-me a caminho por essas planicies que pareciam um vasto lago. Na distancia de algumas milhas, ouvi do lado que acabava de deixar o estrondo da fuzilaria, concebi então algumas suspeitas cheias de angustias, mas não podia voltar atraz.

Cheguei a Settembrina onde comprei os objectos de que tinha necessidade, e sempre inquieto por essa fuzilaria que tinha ouvido, puz-me logo a caminho para São Simão. Descançamos em Rocha Velha, onde soube a causa d’esse estrondo que tinha ouvido e o triste acontecimento que tinha tido logar no mesmo dia da minha partida.

Morinque — o mesmo que me havia surprehendido em Camacua e que eu e os meus quatorze homens tinhamos obrigado a fugir com um braço quebrado, tinha surprehendido o capitão Maximo, todos os seus soldados feitos prisioneiros, e a maior parte das seus cavallos tambem tomados, e os mais mortos.

Morinque havia effectuado esta surpreza com alguns navios de guerra e infanteria. Embarcou depois a infanteria, e dirigiu-se com a cavallaria para o Rio Grande do Norte, espantando pelo caminho todas as pequenas guerrilhas republicanas, que julgando-se em segurança se haviam espalhado pelo territorio; entre elles achavam-se os meus marinheiros que foram obrigados a refugiar-se na floresta.