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em logar de estarem disfarçados com ramos de arvores, segundo o costume.

Durante a curta paragem que fizemos na ourela de um d’esses bosques gigantescos, appareceu-nos uma mulher, que na sua mocidade tinha sido roubada pelos selvagens, e que havia aproveitado a nossa presença para fugir.

A pobre mulher achava-se n’um deploravel estado.

Como não tinhamos então nenhum inimigo a atacar ou de quem fugissemos, continuamos a nossa marcha mui vagarosamente, porque não possuiamos cavallos, e era necessario ir domando os poltros.

O corpo de lanceiros republicanos, tendo ficado completamente desmontado, foi tambem obrigado a lançar mão dos poltros.

Era na verdade um explendido espectaculo, sempre novo, ainda que repetido todos os dias, o vêr esses jovens e robustos negros que mereciam o epitheto de domadores de cavallos que Virgilio dá a Pelops. Era necessario vêl-os saltar sobre esses selvagens filhos do deserto, que não conheciam nem freio, nem selim, agarrando-se ás crinas, e correndo pelas planicies, até que cedendo ao homem o quadrupede se confessava vencido. Mas a lucta era longa, e o animal não se rendia senão depois de ter exgotado todas as forças em se desembaraçar do seu tyranno, que do seu lado admiravel de agilidade e coragem, o apertava entre os joelhos, como entre duas tenazes, não o deixando senão depois de o ter domado.

Tres dias são sufficientes a um bom domador de cavallos para que o animal o mais rebelde possa sofrer o freio.

Raramente, comtudo os poltros são bem domesticados pelos soldados, sobretudo nas marchas onde os muitos afazeres impedem os domadores de lhe prestar todos os cuidados necessarios.

Tendo passado os Mattos atravessámos a provincia das Missões, dirigindo-nos para Cruz Alta, capital d’esta pequena provincia, depois de Cruz Alta