Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/144

Wikisource, a biblioteca livre

servia de refugio a essas tribus de indios de que já dissemos algumas palavras no capitulo precedente.

Um dos chefes d’estes indios tinha-se tornado o terror d’esta pequena villa, á qual vinha duas vezes por anno, com a sua tribu, roubando quanto queria sem encontrar a menor resistencia.

Primeiramente veiu acompanhado por duzentos ou trezentos homens, depois com cem, depois com cincoenta, segundo elle tinha visto augmentar o terror estabelecendo o seu poder, e depois sentindo-se o senhor tinha vindo só, e dava as suas ordens que eram obedecidas, como se por detraz de si tivesse a sua tribu prompta a assassinar aquelle que lhe recusasse obedecer.

Anzani tinha ouvido fallar d’este homem e tinha escutado tudo o que se dizia a seu respeito, sem manifestar a sua opinião sobre a audacia d’este chefe selvagem e sobre o terror que inspirava a sua ferocidade.

Este terror era tamanho que quando se ouvia dizer o chefe dos Mattos todas as janellas se fechavam, e todas as portas se trancavam como se na villa andassem alguns cães damnados.

O indio estava habituado a estes signaes de terror, que lisongeavam o seu orgulho, escolhia a porta que queria vêr aberta, batia — abrindo-se logo com a rapidez do relampago — e roubava tudo sem encontrar a menor resistencia.

Havia justamente dois mezes que Anzani dirigia a casa de commercio nos seus maiores como menores detalhes, quando se ouviu o grito terrivel:

— O chefe dos Mattos!

Como o costume, portas e janellas fecharam-se precipitadamente.

Anzani estava só em casa arranjando as contas da semana, e não julgando que o estrondoso annuncio que acabavam de fazer valesse a pena de se incommodar ficou assentado á sua mesa, com as janellas e portas abertas.