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Montevideo

 

Quando o viajante chega da Europa n’um d’esses navios, que os primeiros habitantes do paiz tomavam por casas volantes, o que vê — logo que o marinheiro de vigia grita: «Terra» são duas montanhas.

Uma que é a cathedral, e a outra ornada de um pharol, que é a montanha do Cerro.

Á medida que o viajante se aproxima das torres da cathedral, de que os ornatos de porcellana brilham ao sol, o viajante vê os mirantes sem numero e de fórmas variadas que ornam todas as casas, depois essas mesmas casas, encarnadas ou brancas, com os seus terraços, depois ao pé do Cerro, as salgadoras, vastos edificios onde se salgam as carnes; e emfim ao fundo da bacia, á borda do mar as encantadoras quintas, delicia e orgulho dos habitantes onde elles vão passar todos os domingos e dias de festa.

Então se deitaes a ancora, entre o Cerro e a cidade, dominada, por qualquer ponto de vista que a olheis, pela sua gigantesca cathedral, se a canôa vos leva para a praia, puchada por seis valentes remadores, se de dia encontraes pelas estradas grupos de encantadoras mulheres vestidas de amazonas, se de tarde atravez as janellas abertas, deitando para a rua torrentes de luz e harmonia, ouvis os sons do piano e de outros instrumentos, é que estaes em Montevideo, a vice-rainha d’esse rio de prata, de que Buenos-Ayres pretende ser a rainha, e que se lança no Occeano por uma embocadura de oitenta leguas.

Foi João Dias o que no principio de 1516 descobriu as praias da Prata. A primeira cousa que o marinheiro de quarto avistou foi o Cerro, e cheio de alegria exclamou em latim:

Montem video!

Sendo este o nome que ficou á republica, de que vamos rapidamente escrever a historia.