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hespanhol. Havia pois uma guerra encarniçada entre o exercito e os contrabandistas, que ou pela estrategia ou pela força tentavam introduzir no territorio de Montevideo as suas sedas e tabaco.

A lucta foi longa, encarniçada e mortal. D. Jorge Pacheco dotado de uma força herculea, de um talhe gigantesco, e de uma grande finura, tinha alcançado — pelo menos assim o julgava — não a aniquillar os contrabandistas, como havia feito aos Charruas, mas a affastal-os da cidade, quando repentinamente tornaram a apparecer mais atrevidos, mais activos, e reunidos como nunca em roda de uma vontade unica, tão poderosa, tão corajosa, e tão intelligente como podia ser a do general Pacheco.

Pacheco mandou espiões por toda a parte a informarem-se do motivo d’esta reapparição.

Todos voltaram pronunciando um unico nome:

— Artigas!

Quem era este Artigas?

Um mancebo de vinte a vinte e cinco annos, bravo como um velho hespanhol, esperto como um Charrua, e agil como um gaucho: tinha tres raças senão no sangue ao menos no espirito. Começou então uma lucta admiravel de esperteza e força entre o general e o contrabandista, mas um era moço e todos os dias a sua força augmentava, o outro não era velho, mas estava já cançado.

Durante quatro ou cinco annos Pacheco perseguiu Artigas, batendo-o por toda a parte por onde apparecia; mas Artigas derrotado não era nem morto, nem feito prisioneiro, e no dia seguinte começava de novo a lucta. Pacheco cansou primeiro e como um d’esses romanos da antiga republica, que sacrificavam o seu orgulho ao bem do paiz, disse ao governo que resignava os seus poderes com a condição que Artigas seria nomeado general em seu logar, porque só Artigas podia acabar a destruição dos contrabandistas.

O governo acceitou, e como esses bandidos romanos