Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/163

Wikisource, a biblioteca livre

terna.

Este successo, sem nenhuma importancia para os acontecimentos d’aquelle paiz, esqueceu bem depressa no meio de factos mais serios que então tiveram logar, e em quanto todos os antigos companheiros do fugitivo se reuniam debaixo do estandarte da independencia para combater os hespanhoes, Rosas, andava pelos pampas entregando-se á vida dos gauchos, adoptando o seu vestuario e costumes, tornando-se um dos melhores cavalleiros e um dos homens mais habeis d’essas immensas planicies, no manejo do laço e da bola, de sorte que vendo-o tão habil n’estes exercicios selvagens, quem não o conhecesse não o tomaria por um habitante da cidade, nem por um pueblero fugitivo, mas por um verdadeiro gaucho.

Rosas entrou primeiramente como peon, isto é jornaleiro, em uma estancia, depois foi capataz, — Garibaldi já nos explicou o que era um capataz — chegando depois a mayordomo.

N’esta qualidade governava os bens da poderosa familia Anchorena. É d’ahi que começa a sua fortuna como proprietario.

Sendo o nosso designio fazer conhecer Rosas debaixo de todos os aspectos; vamos dizer qual era a situação do seu espirito no meio dos acontecimentos que então tinham logar.

Rosas tinha estado em Buenos-Ayres durante os prodigios praticados pela revolução contra a Hespanha. Então quem tinha coragem procurava a celebridade no campo da batalha, quem tinha instrucção procurava-a nos conselhos. Rosas era ambicioso de celebridade, mas qual era a que elle poderia esperar? Que nome poderia adquirir, elle que não tinha nem coragem para se apresentar no campo da batalha, nem instrucção alguma para adquirir um nome entre os homens da sciencia? A todos os momentos ouvia proferir a seu lado alguns nomes que se haviam tornado celebres. Eram como ministros, Rivadaria, de Pasos, de Aguerro, como guerreiros, Saint-Martin, de Baléarés, de Rodrigues, e de Las Heras.