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que os do inimigo, e por isso nadavam em menos agua, aproximei-os quanto pude da costa, que em perda total no rio me offerecia tambem um meio de salvação, desembarcando. Desembaracei o mais possivel o convez da goletta afim que algumas peças podessem servir, e dispostas as cousas d’esta maneira, esperei.

A esquadra que me ia atacar, era commandada pelo almirante Brown. Sabia pois que tinha a tractar com um dos mais habeis marinheiros do mundo.

O combate durou tres dias, sem que o inimigo se atrevesse a vir á abordagem. Na manhã do terceiro dia tinha ainda polvora, mas faltavam-me projectis. Mandei partir as correntes dos navios, reuni os pregos, os martellos e tudo quanto de cobre ou ferro podesse substituir as ballas e a metralha, e lancei-os ao inimigo, ajudando-nos isto a passar o dia.

No fim do terceiro dia não possuindo um unico projectil, e tendo já perdido metade dos meus homens, lancei fogo aos tres navios em quanto que, debaixo do fogo inimigo, ganhavamos a terra, levando as nossas espingardas e alguma polvora.

Os feridos que ainda davam alguma esperança foram tambem transportados. Em quanto aos outros já disse o que se fazia em eguaes circumstancias.

Estavamos pois a cento e cincoenta ou duzentas milhas de Montevideo, e em terreno inimigo. A guarnição da ilha de Martim Garcia foi a primeira que nos tentou fazer mal, mas cheios de orgulho pelo nosso combate com o almirante Brown, foram recebidos de tal maneira que não nos tornaram a apparecer.

Pozemo-nos a caminho atravez o deserto, vivendo de algumas provisões que tinhamos levado, e do que podiamos alcançar pelo caminho.

Os orientaes acabavam de perder a batalha de Arroyo Grande. Reunimo-nos aos fugitivos, e depois de cinco ou seis dias de luctas, combates, e privações