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sendo obrigados a retirar-mo-nos para o Cerro, causando-lhe n’essa retirada os maiores prejuisos que podemos.

Tomei o commando da tropa que hia na rectaguarda afim de sustentar esta retirada o mais vigorosamente que fosse possivel.

Havia entre nós e o Cerro uma especie de riacho que se chamava a Boyada. Era necessario atravessal-o com lama até ao ventre.

Afim de estabelecer desordem na passagem o inimigo havia estabelecido n’um monticulo uma bateria de quatro peças que abriram o fogo quando começamos a passagem. Mas a legião italiana cada vez mais aguerrida despresou essa chuva de metralha como se fosse chuva ordinaria.

Foi então que tive occasião de observar que os nossos negros eram tambem valentes soldados. Faziam-se matar, esperando o inimigo com um joelho em terra. Estava no meio d’elles por isso podia ver como elles se conduziam. O combate durou seis horas.

Ao serviço de Montevideo estava um inglez, que tinha carta branca de Pacheco para fazer tudo quanto julgasse util a favor da nossa causa. Havia reunido quarenta ou cincoenta homens. Chamavam-lhe Samuel; não sei se tinha outro nome.

Nunca conheci homem tão bravo como elle.

Depois da passagem da Boyada vi-o chegar só com a sua ordenança.

— Samuel, lhe disse eu, onde está a teu regimento?

— Regimento, gritou elle, sentido!

Ninguem appareceu, ninguem respondeu. Todos haviam perecido no combate Em uma ordem do dia do general Paz, fizeram-se grandes elogios á legião italiana, setenta homens haviam ficado fóra do combate.

Entramos em Montevideo pelo Cerro.

Samuel commeçou immediatamente a reformar o seu regimento.