Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/226

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d’este mesmo espirito que nos fez supportar o exilio, tomamos as armas em Montevideo por uma causa que nos parecia justa e que reunimos algumas centenas de homens nossos compatriotas que para aqui tinham vindo esperando encontrar dias menos tormentosos que os que soffriamos em a nossa patria.

“Ora, ha cinco annos que durante o cerco que rodeava os muros d’esta cidade, cada um de nós se propõe a dar provas de resignação e de coragem; e graças á Providencia e a este antigo espirito que inflamma ainda nosso sangue italiano, a nossa legião teve occasião de se distinguir, e cada vez que esta occasião se ha apresentado ella não a tem deixado escapar; tão bem que — creio que é permittido dizel-o sem vaidade — ella tem no caminho da honra excedido todos os outros corpos que eram seus emulos.

“Pois se hoje os braços que tem algum uso das armas, forem acceites por Sua Santidade, inutil é dizer que bem mais voluntariamente que nunca, nós os consagramos ao serviço d’aquelle que fez tanto pela patria e pela egreja.

“Nós nos julgaremos pois felizes se podermos vir em ajuda da obra redemptora de Pio IX, nós e nossos companheiros em nome dos quaes fallamos, e não julgaremos pagal-a cara com todo o nosso sangue.

“Se vossa illustre e respeitavel senhoria pensa que a nossa offerta possa ser agradavel ao soberano pontifice, deponha-a aos pés de seu throno.

“Não é a pueril pretenção de que o nosso braço seja necessario que vol-o faz offerecer; sabemos muito bem que o throno do Santo Padre pousa sobre bases que nem podem abalal-as ou assegural-as soccorros humanos, e que além d’isso a nova ordem de cousas conta numerosos defensores que saberão vigorosamente repellir as injustas aggressões de seus inimigos; mas como a obra deve ser repartida entre os bons, e o duro trabalho