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de nós pouco mais ou menos, ouvia nosso fogo e pedia ao general em chefe permissão de marchar debaixo do fogo da artilheria.

Ao fim de uma hora foi lhe concedida.

Estes bravos mancebos chegaram a marche-marche pela grande estrada debaixo do fogo inimigo. Quando attingiram a nossa retaguarda, esta abriu-se para os deixar passar. Desfilaram ao som das cornetas e no meio de um admiravel enthusiasmo. Á vista d’estes jovens, pequenos, trigueiros e vigorosos; á vista de seus negros penachos fluctuantes, o grito de vivam os bersaglieri! sahiu de todas as bocas. Elles responderam pelo grito de viva Garibaldi! e entraram em linha.

N’este momento era repellido de posição em posição, e retirava-me protegido pelos canhões da praça, de que a maior parte collocados á direita da porta estavam apoiados no convento; duas das peças faziam frente á embocadura da grande estrada, os outros atiravam para o flanco esquerdo da nossa columna, onde os atiradores estavam espalhados; mas visto a natureza do terreno, que offerecia á minha gente numerosos abrigos de terra atraz dos quaes elles podiam esconder-se, ellas não lhe fizeram grande damno.

Chegado apenas sobre o campo de batalha, Manara procurou-me com os olhos. Bem depressa me reconheceu pelo meu ponche branco; metteu o cavallo a galope para me alcançar; mas no meio do caminho foi suspenso por um incidente que refiro aqui, porque pinta admiravelmente o espirito dos nossos.

Passando diante da musica que tocava uma aria alegre, uma vintena dos seus soldados não poderam resistir á influencia d’esta aria, e debaixo da metralha e fusilaria dos napolitanos tinha-se posto a dançar, como se estivessem n’um explendido baile.

No momento em que Manara, debaixo de uma saraivada de ballas, os olhava rindo, uma balla de artilheria levou dois dos dançantes.