Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/34

Wikisource, a biblioteca livre

III

As minhas primeiras viagens

 

“Oh! primavera, juventude do anno. Oh! juventude, primavera da vida!” disse Metastasio, eu ajuntarei: Como tudo se aformosea ao sol da juventude e da primavera!

Foi illuminado por esse bello sol que tu linda Constanza, primeiro navio em que sulquei os mares, me appareceste. Os teus robustos flancos, a tua elevada e ligeira mastreação, a tua espaçosa coberta, e até o busto de mulher que se patenteava soberbo na tua prôa, ficarão eternamente gravados na minha idéa! Como os teus marinheiros, verdadeiros typos dos nossos Ligurios, se inclinavam graciosamente sob os remos!

Com que alegria me dependurava na amurada para ouvir as suas canções populares.

Cantavam canções de amor; ninguem então lhe ensinava outras, e estas por mais insignificantes que fossem, enterneciam-me e arrebatavam-me. Se esses cantos tivessem sido pela patria, talvez me enlouquecessem! Quem lhe diria então que havia uma Italia? Quem lhe diria que tinhamos uma patria a vingar e a tornar livre?

Ninguem!

Fomos educados e crescemos como judeus, isto é, na crença de que a vida não tem senão um fim — fazer fortuna.

Em quanto olhava alegre para o navio em que ia embarcar, minha mãe preparava, chorando, a minha bagagem.

A minha vocação era a vida aventureira do mar. Meu pae fez todo o possivel para me tirar similhante idéa, a sua vontade era que eu seguisse, uma carreira pacifica e sem perigos; que fosse padre, advogado ou medico. Mas a minha persistencia o fez desistir, e o seu amor cedeu á minha juvenil obsti-