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Christovão Colombo, não foi mais feliz, quando perdido no meio do Atlantico, e ameaçado pelos seus companheiros a quem havia pedido só tres dias, ouviu gritar: «Terra», do que eu quando ouvi pronunciar a palavra patria, e vi no horisonte o primeiro pharol preparado pela revolução franceza de 1830.

Havia então homens que se occupavam da redempção da Italia!

Em outra viagem, transportei no Clorinde, a Constantinopla alguns Simoniacos, conduzidos por Emilio Parrault.

Tinha ouvido fallar pouco na seita de «Saint-Simon»; sabia unicamente que estes homens eram os apostolos perseguidos de uma nova religião.

Vendo em Parrault um patriota italiano, dei-lhe parte de todos os meus pensamentos. Então durante essas noutes transparentes do Oriente, que, como diz Chateaubriand, não são as trevas, mas unicamente a ausencia do dia, debaixo d’esse ceu marchetado de estrellas, sobre esse mar de que a brisa parecia cheia de inspirações generosas, discutimos, não só as mesquinhas questões de nacionalidade nas quaes havia pensado muito, questões restrictas á Italia, e a cada provincia — mas até a grande questão da humanidade.

Este apostolo provou-me que o homem que defende a sua patria, ou que ataca a dos outros, é no primeiro caso um soldado piedoso; injusto no segundo, — mas o homem que tornando-se cosmopolita, adopta a todas por patria e vae offerecer a sua espada e o seu sangue ao povo que lucta contra a tyrannia, é mais que um soldado — é um heroe.

Teve então logar no meu espirito uma mudança repentina. Pareceu-me vêr em um navio não o vehiculo encarregado de transportar mercadorias entre os diversos paizes, mas o mensageiro do Senhor. Havia partido avido de emoções, e curioso por vêr cousas novas, e a mim mesmo perguntava se esta idéa irresistivel que me perseguia