Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/54

Wikisource, a biblioteca livre

galeota e affundámos o Mazzini que como se vê, tinha tido uma curta, mas gloriosa existencia.

A galeota pertencia a um rico negociante austriaco que habitava a ilha Grande, situada á direita sahindo do porto, a quinze milhas de terra, e estava carregada de café que era enviado á Europa.

O navio era para mim, por todos os motivos, uma excellente presa, porque pertencia a um austriaco a quem eu tinha feito a guerra na Europa, e a um negociante brasileiro domiciliado no Brasil a quem eu fazia a guerra na America.

Dei á galeota o nome de Farropilha, derivado de Farrapos, nome que no imperio do Brasil se dá aos habitantes das republicas da America do Sul, assim como Filippe II chamava mendigos de terra ou de mar, aos revoltosos dos Paizes Baixos.

Até então a galeota chamava-se Luiza.

O nome que lhe havia dado calhava perfeitamente. Os meus companheiros não eram Rossettis, e devo confessar, que a figura de alguns d’elles, não era satisfatoria; isto explica a rapida entrega da galeota e o terror do portuguez que me offereceu os seus diamantes.

Durante todo o tempo que fui corsario dei ordem á minha gente para a vida, honra e fortuna dos passageiros ser respeitada... ir dizer debaixo de pena de morte, mas não devo dizer tal, porque não tendo até hoje ninguem infringindo as minhas ordens, não tenho tido ninguem que punir.

Depois de concluidos os nossos primeiros arranjos dirigi-me para o Rio da Prata, e para dar o exemplo de respeito que eu queria se tivesse no futuro pela vida, liberdade e bens dos passageiros, quando cheguei á altura da ilha de Santa Catharina, um pouco abaixo do cabo Itapoya, mandei deitar ao mar a lancha do navio e entregando tudo quanto pertencia aos passageiros e alguns mantimentos os fiz embarcar deixando-os livres de se dirigirem para onde quizessem.

Cinco pretos escravos da galeota e a quem eu havia