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Do logar onde me achava dominava o navio e os recifes, podendo por isso indicar o caminho que era necessario fazer seguir á galeota, que do seu lado parecendo um ente animado, e conhecedora do perigo em que estavamos, obedecia com toda a docilidade ao leme. No fim de uma hora, durante a qual estivemos entre a vida e a morte, e em que vi empallidecer os meus mais valentes marinheiros, estavamos salvos.

Depois de passado o perigo, quiz conhecer qual o motivo porque havia sido lançado no meio d’esses terriveis cachopos, tão conhecidos dos navegantes, tão bem indicados nas cartas maritimas, e a tres milhas dos quaes julgava estar quando me achava no meio d’elles.

Consultei a bussola: continuava a divagar: teria pois naufragado, se por infelicidade, amanhecendo, não tivesse conhecido o perigo:

Em pouco tempo tudo me foi explicado.

Quando sahi do navio para pedir os dois mil patacões ao meu comprador do café, tinha mandado pôr no tombadilho os sabres e fuzis, para estar prevenido no caso de algum ataque: executando a minha ordem, os marinheiros tinham collocado as armas ao pé da bitacula.

Esta massa de ferro tinha attrahido a si a agulha, que como se sabe, tem iman nas duas extremidades. Mandei pois tirar as armas, e a bussola continuou a andar regularmente.

Proseguimos a nossa viagem chegando a Jesus-Maria, que do outro lado de Montevideo está quasi na mesma distancia que Maldonato.

A unica novidade que ali nos succedeu, foi acabarem-se completamente os viveres, por isso que não tinhamos tido tempo de os comprar antes da nossa partida. Como não nos era possivel desembarcar, pelas ordens dadas, era necessario lançar mão de algum expediente para arranjarmos comestiveis.

Começámos a bordejar, sem comtudo nos affastarmos da costa.