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Página:Memórias de um Negro (1940).pdf/178

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BOOKER T. WASHINGTON

e olhos vivos, era realmente um typo soberbo. O pescoço bronzeado aprumava-se, um braço musculoso movia-se, a mão direita segurava fortemente um lapis. Os grandes pés se firmavam solidamente, os calcanhares juntos e os dedos para fóra. A voz clara e sonora arrastava-se nas passagens que era necessario sublinhar. Em menos de dez minutos a multidão agitou-se num enthusiasmo delirante, os chapéos voaram. Senhoras da Georgia applaudiam ruidosamente.

E quando, erguendo a mão, os dedos separados, falou aos brancos do Sul: “Podemos, nas relações sociaes, estar afastados como os dedos da mão e nos juntarmos não obstante para o progresso geral”, sua voz poderosa quebrou-se como uma vaga contra os muros da sala e acclamações furiosas arrebataram o publico. Nesse momento parecia surgir a imagem de Henry Grady envolto numa nuvem de fumo, no banquete de Delmonico, a exclamar: “Sou um Cavalleiro entre Cabeças-redondas”.

Ouvi grandes oradores em muitos paizes, mas o proprio Gladstone não venceria aquelle negro anguloso que ali se erguia illuminado por um nimbo de sol, diante dos que outr’ora haviam pegado em armas para conservar a sua raça na escravidão. Os clamores augmentavam, e o rosto do homem permanecia impassivel.

Um grande negro retinto, esfarrapado, encoIhido num canto, pregava no orador um olhar ardente e tremia, até que a salva final de applausos lhe arrancou uma torrente de lagrimas. Muitos outros choravam tambem, provavelmente sem saber porque.