Página:Memoria justificativa do desembargador da relação da Bahia (hoje do Porto) João Carlos Leitão.pdf/25

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Largo João Mauricio Wanderley impresso em Pernambuco.

Era pelos fins de Abril quando abri viagem [1] atravessando toda a dilatada Provincia de Minas Geraes até ao Rio de Janeiro, entre sustos, e com aquellas incommodidades, que a precipitação, e falta de meios fizerão inevitaveis. Salvei a vida, e a honra; e com alguns mezes de demora naquella Cidade pude adquirir pelo exercicio de minhas Letras na Advocacia o que havia mister para retirar-me a esta Côrte, e que havia perdido na voragem revolucionaria.

Taes forão meus Fados no Brazil. Aquem escreve de suas cousas he de ordinario acanhada a penna, para fugir a suspeita de exagerado, ou a nota de alardeador. Com este receio deixei em silencio huma boa parte do que passei, mas que facilmente será julgada por os que forem lidos na Historia das Revoluções dos Povos, ou tiverem sido victimas dellas, se houverem attenção ao lugar da scena, em que figurei, qual hum dos Certões mais agrestes, e remotos, cercado por toda a parte do incendio anarchico, e entre Gentes Tapuias, e Mestiços, abandonados a huma liberdade licenciosa.

Tambem avultaria por extremo esta pequena Memoria, que por isso perderia de sua natureza, se referisse a perseguição, que de envolta comigo padecèrão os Europeos da minha Comarca, e das outras convisinhas. A sua riqueza era todo o seu crime [2].

A barbara cobiça daquelles Brazileiros já desnaturados os arrastava ao assassinato, ao roubo, e a toda a especie de crueldades; e seguros da impunidade affiançada pela luciferina politica de alguns Homens Tigres dizião com impudentes apupos, algazarras, quando partilhavão os furtos molhados no sangue innocente de seus Irmãos, "tudo isto he