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Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/141

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que baixinho, e de vez em quando soltava perto de D. Maria algumas indiretas contra ele.

Quando José Manuel acabava de contar uma história com todos os detalhes costumados sobre a vida deste ou daquele, a comadre murmurava, por exemplo:

— Que língua! safa...

E com estas e outras ia pondo em relevo, sem parecer que tinha tal intenção, o caráter do adversário.

Além da qualidade de maldizente, José Manuel mentia com um descaro como raras vezes se encontra. D. Maria, amiga de novidades, e além disso muito crédula, comungava perfeitamente quanta peta lhe queria ele embutir. Uma das suas histórias mais comuns era a que ele intitulava-O naufrágio dos potes.-Acontecera-lhe na sua última viagem à Bahia, e ele a contava pelo modo seguinte:

—Estávamos quase a chegar ao ancoradouro; viajava ao lado do meu navio um enorme peru carregado unicamente de potes. De repente arma-se um temporal, que parecia vir o mundo abaixo; o vento era tão forte, que do mar, apesar da escuridão, viam-se contradançar no espaço as telhas arrancadas da cidade alta. Afinal quando já parecia tudo sossegado e começava a limpar o tempo, veio uma onda tão forte e em tal direção, que as duas embarcações esbarraram com toda a força uma contra a outra. Já muito maltratadas pelo temporal que acabavam de suportar, não puderam mais resistir, e abriram-se ambas de meio a meio: o navio vazou toda a sua carga e passageiros, e o peru toda a sua carregação de potes; ficou o mar coalhado deles,