Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/55

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sua calva era nobre e imponente. Fora valente; ganhara por seus feitos as dragonas de tenente-coronel; era filho de Portugal, e acompanhara el-rei na sua vinda ao Brasil.

Estas qualidades porém não lhe serviam de salvaguarda, e sofria como os outros as caçoadas dos gaiatos.

Assim um dia que uma mulher de mantilha o foi procurar, e se pôs com ele a conversar por algum tempo em particular, passavam uns e outros e escarravam junto da porta, ou deixavam escapar uma ou outra chalaça análoga.

— Amores velhos nunca se esquecem, dizia um.

— Bravo! gosto do bom gosto, dizia outro.

A mulher de mantilha é nossa conhecida, porque nem mais nem menos é a comadre; e o negócio que aí a levou também nos interessa, pois que se trata da soltura do pobre Leonardo. Ouça portanto o leitor a conversa dos dois.

— Sr. Tenente-coronel, disse a comadre ao chegar, venho me valer de V.S.: meu compadre Leonardo está na cadeia.

— O Leonardo?! mas então por quê?

— Ora! maluquices!

E chegando-se ao ouvido do velho, contou-lhe a comadre baixinho a causa da prisão do Leonardo.

O velho desatou a rir.

— Bem pregado!... disse.

— Agora eu queria que V.S. fizesse o favor de falar por ele ao Sr. major Vidigal, que foi quem o prendeu... coitado do homem: é uma vergonha; mas também ele não se emenda!

E prosseguindo, a comadre contou muito em segredo, como já o tinha feito a todos os seus conhecidos,