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Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/73

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A vizinha pôs-se também a rir, percebendo o cavaco, e acrescentou

— Padre amigo do fado... tem que ver... Quando vai ele outra vez à casa dos ciganos?

O velho defronte redobrou a risada. A vizinha continuou:

— Então ele já encarrilha o padre-nosso?

O compadre exasperou-se completamente; e estudando uma injúria bem grande para responder, disse afinal:

— Já... já... senhora intrometida com a vida alheia... já sabe o padre-nosso, e eu o faço rezar todas as noites um pelo seu defunto marido que está a esta hora dando coices no inferno!...

— Hein?... o que é que você diz, senhor raspa-barbas? você mete terceiros na conversa? disse a vizinha encrespando-se; olhe que esse de quem você fala nunca foi sangrador, nem viveu de aparas de cabelos... Não se meta comigo que hei de lhe dizer das últimas e pôr-lhe os podres na rua... Coices no inferno!!! ora dá-se? um santo homem... Coices no inferno... Pois agora saiba, porque eu cá não tenho papas na língua, que o tal seu afilhado das dúzias é um pedaço de um malcriadão muito grande, que há de desonrar as barbas de quem o criou... E não tem que ver, porque ele é de má raça... já ouviu? não se meta comigo...

— E você, respondeu o compadre enquanto a vizinha tomava fôlego, por que se mete com o que não é da sua repartição?

Ela prosseguiu:

— Hei de me meter; não é da sua conta, nem venha cá dar regras, que eu não preciso de você...