Página:Minha formação (1900).djvu/119

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os seus dias quentes de verão, quando o asfalto amolece debaixo dos pés, a folhagem se cobre de poeira, e o ar tem o calor seco das termas, como os seus deliciosos dias de maio e junho, quando as mais altas janelas se transformam em jardins suspensos, e as grandes cestas dos parques se enchem de tulipas e jacintos; as suas noites de luar, que faziam Park Lane parecer-me às vezes na névoa, com a sua rua de palácios, um trecho de Veneza, e que de Piccadilly olhando por cima da bruma de Green-Park para a iluminação em roda de Buckingham Palace, me davam sempre a ilusão do outro lado da baía do Rio, visto da esplanada da Glória, como os seus dias escuros e tristes de nevoeiro, que eu não teria então trocado pelo azul do Mediterrâneo nem pela pureza do céu da Ática; os seus traços de maior cidade do mundo, a esplêndida beleza da sua raça, e os menores detalhes de sua fisionomia própria; os mostradores das lojas de luxo de Piccadilly e New-Bond-Street, como os hansoms que paravam em frente; o Times, a Pall Mall Gazette, o Spectator, como o papel aveludado, o tipo, grande e claro, o couro liso, macio, dourado dos livros; a tranqüilidade dos clubes, o recolhimento das igrejas, o silêncio dos domingos, como a confusão, o movimento, o atropelamento em Charig-Cross e Victoria Station, da onda imensa de todas as classes e todas as cidades, que se espalha de Londres, à tarde do sábados,