Página:Minha formação (1900).djvu/183

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que a característica, por excelência, do americano é a convicção de que melhor do que ele não existe ninguém no mundo. A matéria-prima dos discursos feitos às multidões, ou dos artigos de propaganda eleitoral, posso dizer que se contém toda nesta frase, que ouvi a um dos oradores de um monster-meeting: “Nos Estados Unidos (ele disse, como sempre, in America) cada homem é um rei, e cada mulher uma rainha”. Talvez fosse paradoxo dizer eu que o efeito de tal sentimento não pode ser senão gerar um ilimitado orgulho, e que do orgulho renascerá senão a desigualdade, porquanto a igualdade pode ficar entranhada, no sangue da raça, o servilismo. Não foi assim sempre com as mais livres de todas as raças e as mais soberbas de todas as democracias? O sentimento, entretanto, da igualdade perante a lei e perante a justiça, qualquer que possa ser o sentimento da igualdade de condição, é maior, é mais seguro na Inglaterra do que nos Estados Unidos. É mais provável que o groom do marquês de Salisbury obtenha justiça contra seu amo do que o caixeiro de um grande estabelecimento de Nova York contra o patrão, se este tiver qualquer influência na City-Hall.

Nos Estados Unidos não seria necessário anunciar hoje: “Precisa-se de uma aristocracia”. Essa aristocracia já existe, ou, pelo menos, se está formando rapidamente como