mas se quero lembrar-me dele, tenho sempre diante dos olhos, parada instantaneamente, a primeira vaga que se levantou diante de mim, verde e transparente como um biombo de esmeralda, um dia em que, atravessando por um extenso coqueiral atrás das palhoças dos jangadeiros, me achei à beira da praia e tive a revelação súbita, fulminante, da terra líquida e movente... Foi essa onda, fixada na placa mais sensível do meu kodak infantil, que ficou sendo para mim o eterno clichê do mar. Somente por baixo dela poderia eu escrever: Thalassa! Thalassa!
Meus moldes de idéias e de sentimentos datam quase todos dessa época. As grandes impressões da madureza não têm o condão de me fazer reviver, que tem o pequeno caderno de cinco a seis folhas apenas, em que as primeiras hastes da alma aparecem tão frescas, como se tivessem sido calcadas nesta mesma manhã... O encanto, que se encontra nesses eidoli grosseiros e ingênuos da infância, não é senão o sentimento de que só eles conservam a nossa primeira sensibilidade apagada... Eles são, por assim dizer, as cordas soltas, mas ainda vibrantes, de um instrumento que não existe mais em nós...
Do mesmo modo que com a religião e a natureza, assim com os grandes fatos morais em redor de mim. Estive envolvido na campanha da abolição e durante dez anos procurei extrair de tudo, da história, da ciência, da religião,