gaiolas dos curiós afamados, pelos quais seu marido costumava dar o preço que lhe pedissem... ao lado em um armário envidraçado as pequenas edições portuguesas dos livros de devoção e das novelas do tempo. Minha madrinha ocupava sempre a cabeceira de uma grande mesa de trabalho, onde jogava cartas, dava a tarefa para a costura e para as rendas a um numeroso pessoal, provava o ponto dos doces, examinava as tisanas para a enfermaria defronte, distribuía as peças de prata a seus afilhados e protegidos, recebia os amigos que vinham todas as semanas atraídos pelos regalos de sua mesa e de sua hospitalidade, sempre rodeada, adorada por toda sua gente, fingindo um ar severo que não enganava a ninguém, quando era preciso repreender alguma mucama que deixava a miúdo os bilros e a almofada para chalrear no gineceu, ou algum morador perdulário que recorria demasiado à sua bolsa. Parece que seu maior prazer era trocar uma parte das suas sobras em moedas de ouro que ela guardava, sem que ninguém o soubesse senão o seu liberto confidente, para me entregar quando eu tivesse idade. Era a isso que ela chamava o seu invisível. Por ocasião da morte do servo de sua maior confiança, ela escrevia à minha mãe pela mão de outros: “Dou parte a V. Ex. e ao meu compadre, que morreu o meu Elias, fazendo-me uma falta excessiva aos meus negócios. De tudo tomou conta, e sempre com aquela bondade e humildade
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