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vi lá, numa velha fazenda, um quadro contristador. Era um cavallo aposentado do serviço e solto no campo para que morresse em paz. Sua magreza era tamanha que me despertou a curiosidade. Approximei-me... Não era mais um cavallo. Era uma piolheira sobre quatro patas. Não teria talvez um millimetro de pelle livre de parasitas — e parasitas bem magros, porque o sangue já se fazia pouco para tantos. Puz-me a reflectir sobre a estupidez do dono do cavallo e sobre a estupidez maior dos parasitas. Aquelle multiplicar-se excessivo iria matar o cavallo, e com elle a piolheira. O Brasil é isso, meu caro, pelo menos no norte...

Horrorizei-me com a imagem de Mr. Slang e protestei:

— Mr. Slang exagera evidentemente. O Brasil não está assim tão parasitado...

— Queria mais? Não ha serviço publico que não empregue cinco homens, pessimamente pagos, para fazer, malfeitissimamente, a tarefa que um só, bem pago, faria a contento. Essa é a formula da burocracia brasileira, da qual decorrem tres males: prejuizo do serviço publico, miseria do funccionalismo e roubo de actividade á producção privada.