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106 NEGRINHA


A lingua lusa era-lhe um tabú sagrado que attingira á perfeição com Fr. Luiz de Souza, e dahi para cá, salvo lucilações esporadicas, vinha chafurdando no ingranzéu barbaresco.

— A ingrezia d'hoje, declamava, está para a Lingua, como está o cadaver em putrefacção para o corpo vivo.

E suspirava, condoido dos nossos destinos:

— Povo sem lingua... Não me sorri o futuro de Vera-Cruz !...

E não lhe objectassem que a lingua é organismo vivo e que a temos a evoluir na bocca do povo.

— Lingua? Chama você lingua á garabulha bordalenga que estampam periodicos ? Cá está um desses gallicigraphos. Deletreemol-o, ao acaso.

E, baixando as cangalhas, lia:

— "Teve logar hontem!..." E' lingua esta espurcicia negral ? Oh, meu seraphico Frei Luiz, como te conspurcam o divino idioma, estes sarrafaçaes da moxinifada !"

E continuava: