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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

loucura de uma memoria que se debate no abominavel...

Emfim, voltou-me a consciencia do som e o movimento; o movimento tumultuoso no coração e no ouvido, o ruido das suas palpitações. Depois, a simples consciencia da existencia, sem nenhum outro pensamento (situação que durou muito tempo). De repente veiu a intelligencia, e com ella um terror gélido e um esforço violento para comprehender a realidade do meu estado. Depois, um grande desejo de recahir na insensibilidade. Depois, brusco renascimento da alma, a sensação do tacto e a faculdade da locomoção. E então, a lembrança clara, precisa do processo, dos cortinados negros, da sentença, do desmaio. Mas d'ahi por deante o completo esquecimento. Foi só muito mais tarde, á força de perseverançà, que cheguei a descortinar vagamente as lembranças confusas d'esse periodo de inanimação quasi absoluta.

Ainda não tinha aberto os olhos; sentia-me deitado de costas e sem algemas. Estendi a mão, que cahiu pesadamente sobre o solo humido e duro. Deixei-me ficar assim durante alguns minutos, esforçando-me por adivinhar onde estava e o que tinha sido feito de mim. Tinha vontade de abrir os olhos; mas não ousava fazel-o, tanto terror me infundia o primeiro olhar que ia lançar sobre os objectos que me rodeavam!

Não era que tivesse medo de vêr cousas horriveis; o que me aterrava era a idéa de não vêr nada. Por fim, com uma agonia indescriptivel, abri os ollos. A minha horrorosa apprehensão achava-se confirmada. Envolvia-me a escuridão da noite eterna. Fiz um esforço para respirar; parecia que me suffocava a intensidade das trevas; a atmosphera era intoleravelmente pesada! Deixei-me ficar pacificamente deitado, diligenciando sempre por exercitar o entendimento. Lembrei-me dos