menos perniciosas aberrações das minhas faculdades mentaes; aberrações que não são absolutamente sem exemplo, mas que não tem por certo explicação nem analyse.
Para ser bem explicito, devo dizer ainda que aquella attenção intensa e morbida, assim excitada pelos objectos mais frivolos, era de uma natureza essencialmente diversa da tendencia que toda a humanidade tem pela meditação, e á qual se entregam sobretudo as imaginações ardentes. Não só não era, como podia parecer á primeira vista, um termo excessivo e uma exaggeração d'essa tendencia, mas era completamente e por sua natureza differente d'ella. No primeiro caso, o pensador, o homem imaginativo, interessando-se por um objecto (geralmente não frivolo) perde-o de vista, pouco a pouco, através da immensidade de deducções e de suggestões que elle lhe inspira, a ponto de, quando chega ao fim de um d'esses sonhos, muitas vezes cheios de voluptuosidade, ter completamente posto de parte e esquecido o incitamentum ou causa primaria das suas reflexões. No meu caso, o ponto de partida era invariavelmente frivolo, posto que revestido pela minha imaginação doentia de uma importancia phantastica e refractiva. Fazia poucas ou nenhumas reflexões; e quando as fazia, todas voltavam obstinadamente ao objecto primitivo, como a um centro. As meditações não me eram nunca agradaveis, e no fim do meu sonho, a causa primaria, bem longe de estar esquecida, tinha attingido o interesse sobrenaturalmente exaggerado, que era a feição dominante do meu mal. N’uma palavra, a faculdade de espirito mais particularmente excitada em mim era, como já disse, a faculdade da attenção, emquanto que no pensador ordinario, a faculdade mais desenvolvida é a da meditação.
Os meus livros, n'aquella epocha, se não contribuiam positivamente para irritar o mal, participavam em grande