Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/130

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— Foi tempo, em que sabias d’isso, — remoqueou duro o barão. – Hoje não era eu que te passava receita nenhuma para aviares.

Tomou a bengala e as luvas, soltou um: vivam! — tão forçado e imperceptivel como o da entrada, e enfiou pelo corredor, emquanto o nervoso folhetinista lhe dizia nas costas:

— Vae minado de luxuria, o maldito! Lembra-me um bode castrado... Deixem-n’o, tenham dó d’elle.

Á porta da rua, o barão encontrou o director da Gazeta, bonacheirão e affavel, um grande ar protector no labio grosso e redondo.

- Adeus, barão... Não ha quem o veja!... Que tem feito?

— Nada, a bem dizer... Nem sempre posso... Lá fica artigo sobre o Foragido.

— E então?

Borracheira! — synthetisou desdenhoso, despedindo-se.

Num relance alcançou a rua da Rosa.

Eugenio ainda não tinha entrado. O barão, depois de ter percorrido a casa, de candieiro em punho, n’uma obstinação de exaspero: primeiro a salêta, onde havia agora uma commoda. de mogno, calçado pelo chão, roupa arrastando sobre cadeiras; depois a sala, a alcôva, ao cabo do corredor a sala de jantar, a cosinha, a alcova annexa, e até o cubiculo dos despejos; voltou á sala da frente, poisou o candieiro sobre a mesinha de pé de gallo e deixou-se cair no canapé, devorado de anciedade, quebrado, inerte, as mãos cruzadas sobre o ventre, as pernas estendidas com os pés de calcanhar na esteira, firmes ao alto, a cabeça ajustando no circulo de gorduragem que manchava a parede.