A cada minuto a agitação crescia. Pregoava-se agua-fresca, pastelinhos, támaras. D’um primeiro andar, com taboinhas verdes, logo abaixo do Circo, meninas de batas brancas convidavam: — Psiu! não sóbes, ó catitinha? — aos janotas que passavam. Rodopiava no ar, a cada estocada de vento, um cheiro pelintra a iscas e a refogado. A illuminação profusa dos dois theatros doirava, remoçava, erguia as caliças octogenarias das Variedades, accendia espelhamentos fulvos no basalto humido da calçada, e fazia entrevêr na penumbra, pela rua acima, o renque tortuoso dos predios que subiam. A espaços, um trem rodava; e no seu rapido passar entre os dois theatros, uma dupla fita de fogo lhe corria na fluidez do polimento.
Um homem vagueava ali, comtudo, que não parecia dar-se grande pressa em entrar. Ia e vinha, parava, esculdrinhava a multidão, passava automaticamente de grupo a grupo, n’esta anciedade tortuosa de quem procura com aferro alguem. No olhar, dilatado e teimoso, d’uma seccura inflammada e vitrea, fulgurava a obstinação d’um desejo; ao passo que na bocca a brasa do charuto, n’uma febre de pequeninos movimentos bruscos, denotava que os labios e as maxillas eram nervosamente sacudidos por uma forte preoccupação animal.
Devia de ser rapaz quem elle procurava; porque os olhos d’este homem alto e sêcco poisavam de preferencia nas faces imberbes, levemente pennujosas, dos adolescentes. Fitava-os um instante, com uma fixidez gulosa e sombria, e desandava logo para outro lado. Percebia-se mesmo, ao cabo d’alguns minutos de observação, que elle não procurava determinadamente