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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/276

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Por isso Eugenio tratou de pôr toda a arte e seducção em avivar na esposa do amante aquelle incendio facil de adulterio. Escrupulos, remorsos não podia tel-os: eram qualidades inabordaveis á sua alma de vadio. Quando mais que elle era moço, rico de audacia e de sangue. Quando mais que, na intimidade, essa mulher redondinha e fresca reçumava um aroma cheio e são de carnalidade, um forte cheiro animal, feito de lactescencias de amojadura e exsudações da axilla, mil vezes mais perturbador e mais estimulante que o perfume suspeito das besuntices baratas com que se paramentava a Esther.

Com um cego arranque de flecha despedida, o ephebo marchou direito ao seu fim. — Possuir, gosar a baroneza! — era no que pensava. — E o melhor e o mais rapidamente e o mais inteiramente que podésse!... — Na ardente laboração do seu plano sobrenadava, com a furia sensual, este pique de prazer acanalhado: prostituir uma fidalga. E ia mais um instinctivo e cavo sentimento de vindicta. Porque Eugenio tinha ao barão sua pontinha de osga, — comprehendia-se... Quesilava d’aquella sua forçada desvirtuação de sexo, d’aquelle immundo papel ganymedico, d’aquella funcção passiva e infamante a que o pederasta o sujeitava na mechanica dos seus gosos. Mesmo um pequeno acontecimento veio, incidentalmente, afervoral-o n’este seu vesgo e cavo sentimento.

Saíra elle uma noite, de S. Christovão, singularmente estimulado pela appetitosa frescura e as veladas provocações da baroneza. Todo o caminho até casa levou, — e foi um segundo, com a phantasia cheia e quente das perfeições de Elvira, visionando n’uma flamma a posse d’a-