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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/278

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baraço. Em frente das madamas, no dizer d’elle, atarantava, emmudecia. Queria ser fino, amavel, e só conseguia ser grotesco. Junto de Elvira, quantas vezes não succedeu ir elle a aventurar-se n’um ensaio de galanteio, e de repente fallecer-lhe o geito, atraiçoal-o a coragem, e o pobre rapaz ficar-se ali, de olhar estupido, suspensa a phrase, cortado o gesto, em atlitudes d’um ridiculo adoravel, em gymnasticas mudas d’uma eloquente impotencia! — Não importa... — Á baroneza sobremaneira agradava esta mesma timidez: signal de que Eugenio não somente a estremecia, mas adorava n’ella o que quer que fosse de vagamente superior.

Mesmo a familiaridade foi com o tempo alhanando as difficuldades e encurtando as distancias. Manso e manso, foi Eugenio desemperrando, afinando. A sua natureza oxygenada e fertil exuberava, e ao calor do desejo deliquescia em meiguices, attenções, ternuras, que mais e mais enleavam a baroneza, apenas afeita ás seccaturas do marido. Estava perdida. Implacavelmente, Eugenio obsidiava-a. Com uma tenacidade feroz de arachnideo, elle ia-lhe enliçando as azas da vontade n’uma fina teia de seducções, lisongerias, graças, pequeninos e pueris mocanqueirismos. — Eram cuidados constantes com a sua saude, o seu bem-estar, a sua commodidade: um banquinho para os pés, um chale para os hombros, e fechar uma porta d’onde vinha ar, e ir pelas luvas que tinham esquecido, e adivinhar uma vontade, e surprehender um appetite... eram submissões tímidas de pagem, suspiros escapados na sombra, febris apertos de mão prolongados em tremuras de supplica e promessa... eram, nos claros do dialogo, fundos