Saltar para o conteúdo

Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/44

Wikisource, a biblioteca livre

tempo nos poupou. Maior que o natural, deslumbrante na lisa alvura do marmore, elle inclina a cabeça levemente e dealba no sorriso uma expressão graciosa e fina, que faz um contraste adoravel com a vigorosa envergadura do arcaboiço. Mixto inexprimivel de morbidezza e força, de energia e doçura, esta figura preciosissima realizava para Sebastião em extasi uma tão perfeita harmonia de conjuncto, que elle ficou-a tomando sempre por modelo das bôas proporções da figura humana.

Mas muitas outras estatuas do bello favorito de Adriano impressionaram fortemente o futuro barão de Lavos. Mesmo no Vaticano, mais duas ainda: uma figurando-o de deus egypcio, o olhar hirto e parado, a curva do lotus no sobrolho, o cabello todo em anneis collados ás fontes, parallelos; outra singelamente corôada de gramas e nas mãos as insignias agrarias de Vertumnio, fresca e robusta. Uma outra em Roma, no Capitolio, trazida da antiga villa de Adriano em Tivoli, representando o formoso escravo, que as águas do Nilo sepultaram, com o rosto repassado de melancolia, — como na antevisão do seu destino, — os olhos grandes e magistralmente desenhados, a cabeça tambem inclinada ligeiramente, e em torno da bocca e da face uma perfeição de contorno ideal esvoaçando... No Louvre, uma com os attributos de Hercules, da mais altiva elegancia; outra com os olhos de pedras finas e sobre as espaduas um manto de bronze, largamente pannejado; e uma terceira, seductora, com o largo chapeu, redondo e baixo, de Mercurio, meia tunica deixando descoberto um braço soberbamente modelado, a perna cingida por botinas de coiro, a côxa inteiramente nua, opulenta e suave.