Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/69

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ainda. A luz dava-lhe a três quartos, uniforme, pacífica, suave, destacando do bastidor o seu belo torso flexuoso e forte. Um cabelo curto, abundante, seco, todo revolto em crespos do estilo grego mais puro, coroava-lhe a cabeça, de uma oval harmoniosíssima, cujas faces pomejavam sangue, e cuja extensa e enérgica linha de sobrancelhas, cobrindo uns longos olhos rasgados em amêndoa, com o brilho do ónix na sombra dos grandes cílios, fartos e sedosos, mais idealmente fina tornava a terminação da barba, picada, como um fruto tocado de um pássaro, por uma covinha cor-de-rosa. A epiderme, áspera e trigueira das intempéries, passava cruamente, da gargalheira torrada e negra da base do pescoço, a amaciar sobre o tórax num branco lácteo, pastoso e cheio, que pelos antebraços descia adelgaçando e esbatendo-se té um azul tenro e diáfano de porcelana, cortado bruscamente nos pulsos por um outro círculo queimado. Depois, na região abdominal, a cor bistrava ao de leve, gradativamente; sobre as colunas das coxas altas e redondas reaparecia o branco luminoso e macio, mordido por um leve formigueiro de sangue; uma rugosidade escura enfarruscava os joelhos; daí para baixo, duas finas linhas lustrosas e brilhantes definiam a aresta das tíbias; e logo a pele tornava a asperizar-se e a queimar-se, numa abundância de cor nojosamente progressiva, feita de cieiro e de surro, terminando nuns pés enormes e sórdidos, negros de todas as escoriações e todas as imundícies.

— Não te mexas! — repetia o barão, todo na cópia, delirando. — Finalmente!

É que este rapaz viera trazer-lhe a particularidade anatómica