Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/96

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—Eu, sim, minha senhora.
— Oh! Isso tresdobra-lhe o merecimento!... Que bem! Que bem!
— Minha senhora, nem a poesia presta, nem eu sei recitar.
— Não diga isso... Quem, melhor do que o autor, pode dar expressão ao próprio pensamento?
— Decerto! — confirmou o coro feminino.
— Tem talento este rapaz — disse o barão para Henrique. E, batendo no ombro ao caspento vate: — Quer-me fazer favor desses versos para a Gazeta... Dão um belo folhetim.

Porém Inácio Miguéis, que vagamente percebera ser tudo aquilo um memorial amantético dirigido à filha mais nova, e que não engraçava com esta corja de poetas, resmoneou:

— «Me melem» se percebi palavra!

Pouco depois, o barão segredava a Henrique, num vão de janela:

— Ó homem, diz-me com franqueza: ainda acreditas nas virtudes da D. Plácida?!

?— Que pergunta!... Não vês que continuo a admiti-la na minha casa?

— Estás no teu direito... Mas olha que daquelas intimidades com o Alípio não se reza muito bem.
— Deixa falar... A minha mulher conhece-a por dentro e por fora. A morte do marido deixou-a inconsolável.
— Sempre ingénuo! Isto de «inconsolável» em matéria de viuvez é como o «irrevogável» em política... Tem uma sílaba a mais.

As senhoras agitavam-se de roda do coronel, pedindo-lhe que recitasse também; e ele a fazer-se rogado, com uns ares de isenção bonacheirona;