E sempre sem amor, vagaste sempre
Pallido Don João!
Sem alma que entendesse a dôr que o peito
Te fizera em volcão!
Da absorta mente os sonhos te quebrava
Do mundo o sussurrar.
E foste livre refazer teu peito
Ao ar livre do mar.
E quando o barco d'alta noite aos ventos
Entre as vagas corria
E d'astro incerto o alvor te prateava
A pallidez sombria,
Era-te amor o pleitear das águas
Nos rochedos cavados —
E amargo te franzia um rir de gozo
Os lábios descorados!
E amaste o venda vai, que as folhas trêmulas
Das florestas varria —
E o mar — alto a rugir — que a ouvil-o, a fronte
Altiva se te erguia!
E amaste negro o céo, — o mar — a noite
E entre a noite — o trovão
N'um craneo zombador brindaste aos mortos
Cantor da destruição!