A vós — clássicos como Horacio, Anacreonte e Ovidio, e a vós Românticos como Byron — perguntarei, das noites de gozo monstruoso das lupercaes, das orgias e turtolias da Grécia e de Roma, desses cantos infames que marearão as lyras dos três poetas da antigüidade que entre tantos ahi cito, não por falta, porque fora-me fácil incluir nelles o casto Virgílio com sua Eccloga de Alexis, e Tibullo com seus hymnos ternos ao mancebo formoso de seus amores, cândido como os fulgores da Latonia lua (*) —desses meus cantos seja-lhes scena o salão do banquete, com o seu refulgir de copos cheios de licores e a sua musica de loucas alegrias e alegres amores, sobre chão cheiroso de rozas, respirando o ar volupias e lascivias — quaes mais immoraes, quaes menos puros?
Não fallarei de Byron. — Repito, não é essa uma obra de Moral, e para mim que quando leiu é para apreciar o bello da imaginação do poeta, Don Juan é um primor.
A razão porque comparei os Cantos do meu poema á devassidão dos poetas clássicos foi unicamente para lembrar que ha uma differença entre o immoral e o torpe.
O immoral pôde ser bello — As vizões nuas
(*) Condor erat qualis proefert Latonia luna, Et color in niveo corpore purpureus Ut juveni primum virgo deducta marito Inficitur teneras ore rubente genas, &, &. Ov. Liv. 3 Elegia 4.