Página:O Conde Lopo.pdf/34

Wikisource, a biblioteca livre
4 O CONDE LOPO

Cantou, sonhou — amou : cantos e sonhos
Em amor converteu-os. De joelhos
Em fundo enlevo elle esperou baixasse
Alguma luz do céo, que amor dicesse —

Anjo ou mulher! embora que elle a amara
Co'fogo queimador que o consumia
Com o amor de poeta que o matava!
Anjo ou mulher — embora! e em longas preces
Noite e dia o esperou — Misero! embalde.

Sonhou — amou — cantou: em loucos versos
Evaporou a vida absorta em sonhos —
E debalde! ninguém chorou-lhe os prantos
Que sobre as mortas illusões já findas
Pallido derramára —
          Amou ! E um peito

Junto ao seu não ouviu bater consoante
C'os amores do seu ! Ninguém amou-o
E nem as magoas lhe affogou num beijo ! —

E morreu sem amor ! Bateu-lhe embalde
O pobre coração em loucas ancias.
Passou ignoto, solitario e triste
Entre os anjos do amor, só viu-lhes rizos
Em braços d'outros — e invejosa magoa
Essa alheia ventura só lhe trouxe.
Nunca a mão delle de uma fronte branca