« Ouve — corri a vida em longas dores.
A deshoras vaguei nos mares negros
Da noite á escuridão abrindo as velas
Do rápido batei — fitei sosinho
Da proa solitária o céo e os mares
E os rochedos de além — nem alga ou lenho,
Nem afastada luz, nem vulto branco
Nas rochas e no mar — nem um luzido
De desmaiada estrella em céos de tinta!
Tudo deserto — terra e céo — sombrios
Como o meu coração, mu dez e trevas.
« Não amou-me ninguém! deixaram que
Mirrasse uma existência em sonhos gasta!
Não amou-me ninguém! nem veio quem
Ás minhas magoas soluçasse — Basta!
« Muito pranto chorei e cada gotta
Ao tombar-me no seio endureceu-m'o !
Muito soluço de agonia insomne
Espedaçou-me o peito! — E longa vida,
Em breve espaço me correu! — bem longa!
E se os cabellos não branqueavam todos
No ardor febril da fronte — aqui no peito
Gelou de velho o coração já roto.
Página:O Conde Lopo.pdf/71
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