Saltar para o conteúdo

Página:O Conde Lopo.pdf/82

Wikisource, a biblioteca livre

Ouviu-os todos e a cada um gemido
No imo seio estallava-lhe uma fibra,
E rápida nas faces lhe escorria
Ardente lagrima — e a noite toda,
Sem o vento sentir que as azas frias
Pairava negras pelo ar toldado,
E a gelada saraiva e os relâmpagos
Com luz de inferno desbotando os muros
Da cidade culpada — a noite toda
Lá jazeu ao relento — e em torno delia
O braço do Senhor quebrara as campas,
E os lividos fantasmas á luz crebra
Do fuzil infernal vagueavam torvos
Nas mortalhas sangrentas embuçados!

E a noite toda — em lagrimas passara,
Em duras preces a penar em dores
Que em durso morso descarnavam fibras
Do corpo nú, de regelado sangue!
Que os olhos baços lá da cruz infame
Com descerrada bocca e a fronte pensa
Rasgada pelas pontas dos espinhos
Do zombador diadema do martyrio!

VII

E o vento soluçava regemendo
Nas rotas folhas do palmar bravio!
E com prantos de leão em roucas vozes
Carpidor — o trovão bramava negro —