Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/109

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— Já lhe disse que não. Ai, que é tão perguntador!

— É porque me interesso por si.

— Ora, deixe lá! disse ela fazendo um indolente gesto de negativa.

— Palavra!

Mas a Sra. D. Josefa Dias, que os vigiava, aproximou-se, de testa muito franzida, e João Eduardo levantou-se, intimidado.

À saída, quando Amélia no corredor punha os seus agasalhos, João Eduardo veio dizer-lhe, de chapéu na mão:

— Cubra-se bem, não apanhe frio!

— Então continua a interessar-se por mim? — disse ela apertando em redor do pescoço as pontas da sua manta de lã.

— O mais possível, creia.

Duas semanas depois veio a Leiria uma companhia ambulante de zarzuela. Falava-se muito da contralto, a Gamacho. A Sra. D. Maria da Assunção tinha um camarote, levou a S. Joaneira e Amélia — que duas noites antes estivera costurando, com uma pressa comovida, um vestido de cassa todo florido de laços de seda azul. João Eduardo na platéia — enquanto a Gamacho, empastada de pó-de-arroz sob a sua mantilha valenciana, vibrando com uma graça decrépita o leque de lantejoulas, garganteava malaguenhas agudas — não se fartou de contemplar, de desejar Amélia. À saída veio cumprimentá-la, oferecer-lhe o braço até a Rua da Misericórdia; a S. Joaneira, a Sra. D. Maria da Assunção seguiam atrás com o tabelião Nunes.

— Então gostou da Gamacho, Sr. João Eduardo?